Keira Knightley e Michael Fassbender exploram as correntes da psicanálise em Um Método Perigoso. |
Em determinado momento de suas trajetórias, Jung e Freud mantiveram um relacionamento de amizade e ajudaram um ao outro na construção de conceitos e teorias basilares para a Psicologia. Freud acreditava que todos os conflitos dos indivíduos, direta ou indiretamente, tinham estreita ligação com sua relação com a sexualidade, além disso, acreditava o professor que não há cura completa para os problemas com a mente humana. Já Jung não conseguia perceber esta conexão e acreditava que, com seu trabalho poderia, poderia reinventar o indivíduo, curando-o do aprisionamento causado por traumas. Os dois posicionamentos colidem quando Jung se aproxima de uma de suas pacientes, a russa Sabina Spielrein, se envolvendo amorosamente com ela. Assim, Um Método Perigoso confronta esses dois personagens e suas ideias em um filme que pode ser interessante para o grande público, mas certamente será mais proveitoso para os já iniciados no assunto.
O filme é dirigido por David Cronenberg, cineasta adepto da violência gráfica e de temáticas bizarras - são dele A Mosca, Marcas da Violência e Senhores do Crime. Este talvez seja o choque inicial para quem já conhece sua filmografia, não há relação direta alguma entre Um Método Perigoso e o passado do cineasta, a não ser, é claro, a presença de Viggo Mortensen no elenco. Não há vestígio de David Cronenberg em todo o longa, nem mesmo nas cenas de sexo, algo que já foi explorado das maneiras mis inusitadas possíveis em seus outros filmes. Um dos méritos do longa talvez seja esse: Cronenberg soube reconhecer que, neste caso, o melhor a fazer era evitar excessos e sobreposições de sua personalidade, evidenciando o roteiro levemente instigante de Christopher Hampton.
No entanto, o diretor conta com uma interpretação excessiva de Keira Knightley que compromete por completo o resultado de Um Método Perigoso. Knightley não poupa esforços ao cair em todas as armadilhas habituais na construção de uma personagem como Sabina Spielrein. Na primeira parte do longa, Knightley não poupa gestos, bocas e gritos para deixar bem claro ao espectador que Sabina é uma enferma mental. Precisava tanto? Contudo, o diretor conta com o aplicado e econômico Michael Fassbender que faz um instigante e contraditório retrato de Jung, que acaba se desconstruindo gradualmente aos seus próprios olhos e aos olhos do espectador, na medida em que vez ou outra se inclina e indaga-se se seu colega Freud não estava certo o tempo todo. Mas a melhor interpretação do filme é de Viggo Mortensen que praticamente anula sua personagem para viver um Freud inabalável.
Um Método Perigoso acaba sendo prejudicado por interpretaçõs equivocadas, mas principalmente pela especificidade de seu tema, admnistrado com não muito bem pelo roteiro de Christopher Hampton. No entanto, mostra-se como um interessante exemplar de como David Cronenberg conseguiu se adaptar a um novo contexto e lançar-se a novos desafios. Uma mudança estimulante e animadora para um cineasta com uma carreira tão bem definida em assinaturas.
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