Dominic Cooper em dupla função em Dublê do Diabo. |
Filho mais velho de Saddam Hussein, Uday Hussein era um inconsequente. Viciado em drogas, violento e temperamental, Uday passou boa parte do mandato de seu pai se metendo em toda sorte de confusões que davam dor de cabeça até ao também explosivo Saddam Hussein, seu pai. Dublê do Diabo traz parte da biografia desse sujeito repugnante pela perspectiva de seu sósia Latif Yahia. O roteiro do filme foi baseado em um livro de autoria do próprio Yahia, que foi sequestrado pelo filho do ditador quando ainda servia o Exército do Iraque na guerra contra o Irã na década de 1980. Segundo, Yahia era um calvário acompanhar as barbaridades do filho de Hussein, reconhecido por todos como um herdeiro mimado, voluntarioso e cruel. A direção do longa coube ao neozelandês Lee Tamahori, diretor conhecido por filmes de ação escapista, e o papel duplo coube ao inglês Dominic Cooper, de Mamma Mia! e A Duquesa.
O resultado não é decepcionante, apesar de alguns excessos. Tamahori se policia o máximo que pode e nem traz vestígios do diretor desleixado e confuso de O Vidente e 007 - Um Novo Dia para Morrer. Ainda há excessos, como sequências grotescas como o assassinato de um dos convidados de um banquete oferecido por Uday ou a destoante cena de sexo entre Latif e uma das prostitutas do filho de Hussein, vivida por Ludivine Sagnier. Ainda assim é curioso relativizar essa observação pois em determinados momentos os excessos de Tamahori convergem no teor doentio dos atos do protagonista, dimensionando relativamente bem a psicopatia do primogênito de Hussein. No mais, Tamahori acerta mais do que erra e se redime de seu último filme, a tragédia sem precedentes O Vidente, com Nicolas Cage e Julianne Moore.
A composição de Dominic Cooper oscila. Em determinados momentos, o ator é capaz de sacadas incríveis para ambos personagens, em outras vacila no tom, especialmente Uday que vez ou outra cai no risível. Os demais atores também não têm muito a oferecer, especialmente Ludivine Sagnier que interpreta uma personagem completamente indiferente à narrativa. O destaque maior fica por conta do tom que Tamahori encontrou para o filme. Dublê de Corpo traz o retrato sombrio de um homem obcecado pela falta de limites do poder que tinha em mãos. Nas sequências mais marcantes do longa vemos Uday sequestrando menores na rua para transformá-las em suas prostitutas exclusivas e estuprando uma noiva em pleno dia da cerimônia de seu casamento. O filme toma certas liberdades, nada que incomode muito, e consegue oferecer o que exatamente propõe, ainda que falte um certo polimento na performance de seus atores. Mas isso o tempo resolve, ao menos Dublê de Diabo nos dá esperança de que Lee Tamahori tem potencial para projetos mais bem resolvidos que seus exemplares anteriores. Há salvação para tudo.
The Devil's Double, 2011. Dir.: Lee Tamahori. Roteiro: Michael Thomas. Elenco: Dominic Cooper, Ludivine Sagnier, Raad Rawi, Philip Quast, Mimoun Oaissa. Khalid Laith, Dar Salim, Nasser Memarzia, Mem Ferda, Pano Masti, Akin Gazi. 108 min. Califórnia Filmes.
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