Fernando Alves Pinto e Caco Ciocler em 2 Coelhos. |
2 Coelhos é um daqueles casos que me leva à indefinição. Se por um lado a trama do filme é engenhosa, salientando uma articulação interessante do roteiro ao tornar coerente a junção de tantas tramas, por outro, o longa peca por inovações desnecessárias na abundância de sequências que utilizam recursos digitais. Algumas ficaram muito boas e estão à serviço da sua história, outras, parecem deslocadas e se utilizam de recursos batidos como o slow motion. Semelhante ao que diretores como Baz Luhrmann e Zack Snyder tentaram imprimir em algumas de suas obras mais icônicas, para ser mais claro Moulin Rouge e 300, respectivamente, Afonso Poyart traz a linguagem clipeira, que não necessariamente preza pela logicidade ou conexão entre seus artifícios e os eventos que estão acontecendo no filme. No caso de 2 Coelhos, há um descompasso, o que não prejudica a narrativa central do filme, mas passa a impressão, em momentos localizados, de que estamos diante de um diretor que quer sublinhar, insistentemente, o seu caráter visionário para o espectador.
2 Coelhos traz a história de Edgar, um rapaz que cria um plano mirabolante para atingir duas metas centrais em sua vida, reveladas no desenrolar dos acontecimentos do longa. O que se sabe em um primeiro momento é que o protagonista tenta sabotar a teia de corrupção que assola nosso país há anos, a ligação entre o crime organizado e as altas esferas de poder, o judiciário e o legislativo.
Pela exposição da sua premissa, não há como negar que 2 Coelhos é um filme inteligente e repleto de insights interessantes. Pena que Poyart acredita demais nas suas interferências imagéticas mirabolantes e que pouco dialogam com os acontecimentos do filme. Os efeitos digitais tão propagados servem mais à dispersão do que como suporte narrativo, o que é uma pena.
Há ótimas interpretações do seu elenco como é o caso do protagonista Fernando Alves Pinto e Caco Ciocler, que tem em mãos um dos personagens mais interessantes e emocionalmente bem construídos do longa. O filme ainda conta com Alessandra Negrini, apenas correta em suas funções, e o ex-VJ da MTV Thaíde, que estabelece uma parceria cômica com o ator Robson Nunes. Contudo, o destaque de 2 Coelhos vai mesmo para seu realizador. Na verdade, para a ousadia do mesmo. Goste ou não goste de suas interferências, há que se reconhecer que Afonso Poyart realizou o filme que quis com os recursos que tinha e imprimiu uma linguagem própria à obra. Uma linguagem que esperamos ser melhor administrada em trabalhos futuros, é verdade, mas que mostra a personalidade do realizador.
2 Coelhos, 2012. Dir.: Afonso Poyart. Roteiro: Afonso Poyart. Elenco: Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes, Neco Vila Lobos, Roberto Marchese, Thaíde, Robson Nunes, Norival Rizzo, Aldine Muller. 101 min. Imagem Filmes.
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