Andrea Riseborough e James D'Arcy em W.E.. |
W.E. - O Romance do Século conta uma passagem na biografia da corte britânica que O Discurso do Rei apenas mencionou. O longa metragem escrito e dirigido por Madonna conta o romance entre o Rei Edward VIII da Inglaterra e a americana Wallis Simpson. Na ocasião em que começaram o affair, por assim dizer, Wallis ainda estava casada, seu segundo casamento, já que Simpson tinha se divorciado do primeiro marido. A história dos dois foi um escândalo e Edward abdicou o trono para viver com sua amada, sendo banido da Inglaterra por isso. O trono foi ocupado por seu irmão, George VI, um homem inseguro em sua nova função por ser gago e ter pouco traquejo em público, este personagem foi vivido por Colin Firth em O Discurso do Rei, trabalho que lhe rendeu o Oscar de melhor ator. Com W.E., Madonna quer resgatar essa história, sobretudo pela perspectiva de Wallis, pouco lembrada em sua abdicação quando a biografia do casal é contada. Para isso, a diretora e roteirista utiliza uma personagem fictícia, uma homônima de Wallis, chamada de Wally, vivida por Abbie Cornish, uma mulher que sofre com as agressões do seu marido e passa a se relacionar com um segurança de uma galeria.
Os esforços de Madonna são reconhecidos pela sofisticação visual de W.E. e por algumas opções originais de sua narrativa. No entanto, o longa cai em desgraça pelo excessivo zelo que sua roteirista e diretora tem com a biografada. Retratos humanos de figuras históricas como esse jamais devem colocar seus protagonistas em um pedestal. Isso acontece em W.E.. Madonna evita qualquer perspectiva mais humana quando aborda a relação de Edward e Wallis, tanto que não exita em estigmatizar o retrato de outros personagens, como o próprio George VI, aqui mostrado como um homem pateticamente inseguro e subjulgado às opiniões de sua esposa Elizabeth, bem diferente do casal afetuoso do longa de Tom Hooper. Para completar o desastre, Madonna não consegue tornar a trama paralela a de Wallis atraente o suficiente para realizar uma conexão entre a personagem contemporânea e a homenageada, o que torna-se ainda pior quando decide intercalar certas sequências com diálogos constrangedoramente tolos entre as personagens.
No entanto, W.E. ao menos conta com atores interessantes, sobretudo Andrea Riseborough, excelente como Wallis Simpson, retratando a personagem como uma figura libertária e trágica. James D'Arcy também se destaca como Edward VIII, trazendo-o como um ponto destoante de uma corte afeita ao protocolo. Infelizmente o mesmo não pode ser dito da talentosa Abbie Cornish, que já nos encantou com o belíssimo desempenho em Brilho de uma Paixão, de Jane Campion, mas não por culpa da atriz. A construção de sua personagem é o "calcanhar de Aquiles" do filme, o que acaba prejudicando o trabalho de composição de Cornish, uma pena.
Plasticamente irretocável, talvez W.E. tenha sido uma proposta pesada demais para uma cineasta com um currículo tão modesto quanto Madonna. Conduzir e roteirizar um romance de época baseado em figuras históricas sem recorrer aos equívocos de W.E. seria um princípio básico. O longa não tem consistência e tropeça ao tentar contar uma trama verídica com uma outra fictícia que revela-se completamente capenga. Se tivesse optado pelo convencional, talvez o desastre não fosse tão grande.
W.E., 2011. Dir.: Madonna. Roteiro: Madonna e Alex Keshishian. Elenco: Abbie Cornish, Andrea Riseborough, James D'Arcy, Oscar Isaac, Richardo Coyle, David Harbour, Jams Fox, Judy Parfitt, Haluk Bilginer, Geoffrey Palmer, Natalie Dormer, Lauence Fox. 119 min. Playarte.
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