Max Von Sydow e Thomas Horn em Tão Forte e Tão Perto: sensibilidade, apesar da racionalidade do protagonista. |
A Síndrome de Asperger flerta com o autismo, sem apresentar o retardo no sistema cognitivo daquele que apresenta este quadro clínico. Os sinais comuns da síndrome são o elevado nível de inteligência e a dificuldade de socialização daquele que é diagnosticado. Assim, não deixa de ser compreensível a dificuldade inicial que Tão Forte e Tão Perto tem para aproximar o espectador de seu protagonista, o menino Oskar Schell, que ao longo do filme revela ter tido uma avaliação inconclusa a respeito da síndrome. Oskar é uma criança extremamente inteligente e que consegue socializar-se apenas com o pai por julgar que todos os outros a seu redor são inferiores intelectualmente a ele. O garoto não exita em ofender e não consegue dimensionar e respeitar a dor alheia, por exemplo. Este foi um dos motivos para a maioria dos críticos rejeitarem o novo filme de Stephen Daldry, diretor de Billy Elliot, As Horas e O Leitor. Particularmente, acredito que em Tão Forte e Tão Perto o diretor tenha conseguido contornar uma inevitável antipatia pelo protagonista com sua habitual sensibilidade, traço marcante em todos os seus filmes.
Tão Forte e Tão Perto começa quando Oskar perde seu pai nos atentados às Torres Gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2001. O menino então encontra em um paletó do falecido patriarca uma chave dentro de um envelope endereçado a alguém com o sobrenome Black. Oskar então começa uma jornada para encontrar esta pessoa que pode saber alguma informação de seu pai. Stephen Daldry é muito habilidoso em cenas cruciais do filme, cenas que exigem uma natural habilidade com sentimentos e percepções dos personagens. Mesmo nos diálogos mais intensos pela crueldade das palavras de Oskar, Daldry consegue relativizar julgamentos, compreendendo aos poucos que a empreitada de Oskar acaba promovendo uma suavização dos traços dominantes da síndrome que o menino porta.
Ao contrário do que vem sendo alardeado, Thomas Horn consegue compreender muito bem as possibilidades e fronteiras de seu personagem, conferindo a Oskar uma agilidade de racicínio e uma dificuldade de entregar-se a emoções pela própria maneira racional com que encara os acontecimentos. Considerando que este é o primeiro trabalho do garoto, ele está muito bem e junta-se ao seleto grupo de jovens atores descobertos por Daldry - Jamie Bell, de Billy Elliot; Jack Rovello, de As Horas; David Kross, de O Leitor. O garoto é acompanhado por um excelente grupo de coadjuvantes que incluem Tom Hanks, Sandra Bullock, Viola Davis, John Goodman e Jeffrey Wright, todos ótimos em seus respectivos papeis, especialmente Bullock, com quem venho implicando há anos. Mas não há nada tão soberbo quanto o trabalho de Max Von Sydow aqui. Na pele do inquilino da avó de Oskar, um senhor alemão que tem dificuldades para falar e se comunica através de um bloquinho e de suas mãos, Von Sydow consegue ser magnífico sem pronunciar uma palavra sequer. Estupendo.
Tão Forte e Tão Perto pode estar bem longe do resultado já obtido por Stephen Daldry em seus filmes anteriores - talvez a ausência de David Hare, seu habitual roteirista, tenha lhe feito falta. No entanto, o drama está longe de ser o desastre alardeado e consegue emocionar, ainda que utilize como protagonista um garoto com dificuldades de externar seus sentimentos. Daldry consegue tornar o filme comovente, sem apelar para as repetitivas abordagens sobre o 11 de setembro. Até porque Tão Forte e Tão Perto não trata sobre o atentado, mas sobre um garoto que procura desesperadamente uma razão lógica para a morte de seu pai, quando não há razão lógica, e acaba encontrando pelo caminho pessoas, dando oportunidade para as emoções, para o toque humano. E como a gente tem o terrível dom de não enxergar o óbvio... Nem tudo pode ser explicado na vida. O aprendizado é duro, mas necessário.
COMENTÁRIOS