Gary Oldman protagoniza suspense marcado pela frieza, O Espião que Sabia Demais. |
O universo de O Espião que Sabia Demais é frio. Composto por veteranos, a alta roda do Serviço de Inteligência Britânico é formada por homens que carregam em suas vidas o peso de uma longa trajetória. Anulando por completo suas vidas sociais, todos parecem estar à disposição do grupo em turno integral, sem tempo para abstrações. O filme do sueco Tomas Alfredson parece adotar esta concepção em sua narrativa, que segue durante toda a projeção sem maiores picos. Diretor do notável Deixe Ela Entrar, a primeira versão, Alfredson demonstra habilidade ao segurar uma trama tensa e paranóica por si só. No entanto, se parece interessante que o cineasta tenha adotado em sua condução uma personalidade que norteia os principais personagens do filme, o distanciamento emocional diante dos fatos, e contrapartida cria um problema ligeiramente incômodo na fluidez de sua narrativa.
O Espião que Sabia Demais é baseado no romance de John le Carré (o mesmo autor de O Jardineiro Fiel, obra que foi adaptada para o cinema por Fernando Meirelles) e conta a história de um agente do MI6 (Oldman) que é retirado de sua aposentadoria para investigar seus companheiros de trabalho, alvos de suspeitas de espionagem interna para os soviéticos. Tomas Alfredson transforma seu thriller de espionagem em um paciente e cerebral jogo de xadrez - assim o caso é resolvido e é dessa forma que ele se apresenta ao personagem de Gary Oldman. O diretor tem tomadas interessantíssimas e que contribuem para tornar O Espião que Sabia Demais ainda mais subversivo para seu gênero. A abordagem torna-se ainda mais interessante quando os veteranos contracenam com personagens mais inexperientes, como é o caso daqueles interpretados por Tom Hardy e Benedict Cumberbatch, os únicos que aida conseguem sentir as consequências de suas ações e reagir às suas conclusões dramáticas.
O elenco é encabeçado por Gary Oldman, extremamente feliz em sua interpretação, conseguindo dosar sas emoções para transparecer o domínio delas ou pelo menos a tentativa de contê-las. John Hurt está extraordinário como o cabeça do grupo e os jovens Hardy e Cumberbatch conduzem muito bem os dramas dos seus personagens. Mark Strong também está excelente como um personagem chave para desvendar todo o mistério. Ainda estão corretos, em participações mais discretas, Colin Firth e Toby Jones. No entanto, o filme é um caso de trama cerebral que sobrepõe seu formato à fluidez ou empatia do espectador. O envolvimento emocional é praticamente nulo, ainda que a admiração pelos esforços e coerência de seus realizadores seja incontestável.
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