Rebecca Hall confronta fantasmas em um internato para meninos em O Despertar. |
O Despertar inspira-se em todos os elementos corriqueiros de thrillers sobrenaturais. Ambientado após a Primeira Guerra Mundial em um internato para garotos na Inglaterra, o filme utiliza locações isoladas, a infância como elemento causador de calafrios e uma protagonista cética até o último fio do cabelo em manifestações sobrenaturais. Bem, cética até a página dois, ou seja, aqui quando Florence Cathcart confronta-se com seus próprios fantasmas e acontecimentos que não consegue explicar. Utilizando uma trama de época e explorando ao máximo as dores e traumas de sua protagonista, O Despertar funciona porque sua meta não é causar sustos a cada minuto de projeção, mas levar o espectado à angústia ao utilizar como fio condutor desta sensação seus atores e a contenção de recursos técnicos. O filme acerta no gênero ao aplicar com afinco a máxima "quanto menos, melhor".
Rebecca Hall interpreta Florence Cathcart, uma renomada autora de livros que visam desvendar fenômenos tidos como sobrenaturais. Quando é convidada para desvendar estranhas manifestações em um colégio interno para meninos, isolado de Londres, Florence passa a confrontar-se com situações que não consegue explicar. Apesar da compração inconveniente, O Despertar guarda semelhanças com Os Outros, de Alejandro Aménabar. Nick Murphy acerta ao proporcionar um clima mais soturno e solitário para seus personagens, algo que ele consegue através de jogos de luzes e com a impecável fotografia de Eduard Grau, por exemplo.
O Despertar também acerta na escolha de seus atores. Rebecca Hall é uma atriz interessantíssima, isso já mostrou em filmes como Vicky Cristina Barcelona e Atração Perigosa. Ao assumir sua primeira grande protagonista, Hall conduz toda a trama e eleva emocionalmente a história, na medida em que sua personagem defronta-se com seus próprios tabus e feridas. Imelda Staunton também está na fita e consegue compor todo arco dramático de sua personagem, sem denunciar elementos cruciais que só serão desvendados com o desfecho do longa. Também está no filme Dominic West, interpretando um personagem que serve bem mais à trama quando não surge como óbvio interesse amoroso da protagonista.
O Despertar sofre com a falta de credibilidade em alguns desdobramentos de sua trama, mas nada disso consegue enfraquecer o resultado final de um filme modesto em suas pretensões, mas certeiro em seus termos artísticos e técnicos. O filme comprova que o que mais falta no gênero hoje é uma boa história, composta por personagens interessantes e com uma psiquê bem mais assustadora que sequências de mutilação e dólares e mais dólares gastos em efeitos especiais tolos que em nada servem à trama.
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