Tom Hardy e Joel Edgerton travam duelo físico e emocional em Guerreiro. |
Guerreiro é o típico filme que utiliza um esporte como elemento propiciador de mudanças e superações de seus personagens. Essencialmente é um drama e como trata de MMA, uma modalidade de luta, encontra semelhanças inescapáveis com Rocky, Menina de Ouro e, talvez a semelhança menos desejável neste momento, O Vencedor. Digo isso porque nenhum longa que deseja fazer uma trajetória bem sucedida, especialmente na temporada de premiações, almeja comparações com um filme lançado no ano anterior e que ressoou tanto na comunidade norte-americana. Infelizmente este foi o caso de Guerreiro, digo infelizmente porque o filme é muito bom e, por uma dessas infelicidades que acometem o seu timing no lançamento (algo que nem é culpa de seu realizador ou mesmo de sua distribuidora, me parece mais uma dessas infelicidades de ocasião), o longa acabou ficando de fora nas listas de associações, sindicatos e prêmios de imprensa e de profissionais do cinema.
A produção segue a trajetória de dois irmãos de uma família desfacelada. Por razões que merecem ser descobertas no filme, ambos não se falam há anos, tampouco nutrem uma relação mais próxima com seu pai, que passa por um processo de reabilitação para livrar-se do vício por bebida alcoólica. A oportunidade de reaproximação da família surge quando ambos se inscrevem em um torneio de MMA, cujo prêmio é vital para ambos. Na medida em que os dois derrotam seus adversários, o campeonato vai se afunilando e uma final protagonizada por ambos passa a ser inevitável, proporcionando a eles um confronto físico e emocional que coloca em ponto de colisão suas mágoas e frustrações com a vida.
Gavin O'Connor já tinha feito um filme que explorava dramas familiares em um universo aparentemente inóspito a este tipo de abordagem. O filme era Força Policial, de 2008, e trazia na zona de confronto Edward Norton e Colin Farrell. Não foi uma das melhores produções do ano, apesar de ter conseguido agregar alguns admiradores. Guerreiro é muito melhor resolvido dramaticamente, especialmente no seu segundo ato, quando situações forçadas e pouco convincentes (conflitos entre marido e mulher e personagens tentando livrar-se do vício das drogas, por exemplo) abrem espaço para o torneio e o trio Tom Hardy, Joel Edgerton e Nick Nolte dominam a dinâmica narrativa.
Tom Hardy tem um desempenho essencialmente físico, um verdadeiro trator em cena. O ator compõe um personagem marcado pela vida e por isso sente uma enorme dificuldade em expressar toda sua raiva, a única via catártica dele é o embate físico. Joel Edgerton, em contrapartida, assume o lado mais emocional da família, interpretando um homem doce e admirável na maneira com que cuida de sua esposa e filhas. Entre os dois atores está o veterano Nick Nolte, responsável por um desempenho que há anos não víamos em sua carreira. O ator vive um homem que persiste na tentativa de recompor os cacos deixados por ele mesmo na relação com seus filhos, um esforço aparentemente em vão.
Quando chega ao fim, Guerreiro mostra toda sua força e impõe-se através de um final libertador para a plateia e para os protagonistas. O filme de Gavin O'Connor pode não ser original no seu pano de fundo ou na maneira com que constrói seus personagens, motivações e conflitos. No entanto, o longa tem uma inegável eficiência emocional e apresenta desempenhos admiráveis - físicos e emocionais - do trio central. Tom Hardy e Joel Edgerton merecem elogios rasgados por sua dedicação e entrega integral a seus personagens e Nick Nolte por se deixar levar pela vulnerabilidade e emoção.
Warrior, 2011. Dir.: Gavin O'Connor. Roteiro: Gavin O'Connor, Anthony Tambakis e Cliff Dorfman. Elenco: Tom Hardy, Joel Edgerton, Nick Nolte, Jennifer Morrison, Frank Grillo, Kevin Dunn, Maximiliano Hernández, Vanessa Martinez, Fernando Chien. 140 min. Imagem Filmes.
COMENTÁRIOS