Jeremy Irvine protagoniza Cavalo de Guerra, retorno de Steven Spielberg às telonas após três anos afastado da função de diretor. |
Julgar Cavalo de Guerra pelo seu olhar agridoce sobre um período tão duro quanto a Primeira Guerra Mundial chega ser um contra-senso. Steven Spielberg não é um diretor que lança um olhar realista ou pessimista sobre a vida. Ainda que flerte com feridas pessoais, como foi o caso de A Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan e até este Cavalo de Guerra, há sempre uma ponta de esperança sobre a humanidade e o diretor sempre reserva uma recompensa para seus heróis, após as sucessivas agruras de suas respectivas trajetórias. O grande problema de Cavalo de Guerra está em seu argumento e por mais que Spielberg e os roteiristas Lee Hall e Richard Curtis (o texto original da montagem teatral de Michael Morpurgo também deve receber sua parcela de créditos) tentem transformá-lo e um filme que fuja do velho chavão da amizade entre um garoto e seu animal, no fim das contas o filme tem altos e baixos em função deste plot praticamente renegado em prol deuma história que enfoque no drama humano de personagens cujas vidas de alguma maneira se transformaram através da dor provocada pela guerra.
Difícil dizer porque Cavalo de Guerra não dá liga. Há ótimos momentos e Spielberg filma com originalidade, perspectiva e precisão cenas de batalhas. Como narrativa, o "miolo" do filme é bem melhor que seu início e seu desfecho. A trajetória de Joey nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial e os personagens que ele encontra na jornada servem muito mais ao filme que sua ligação com Albert, aliás interpretado afetadamente por Jeremy Irvine, que excede a sensibilidade do personagem. Em contrapartida como esquecer de Niels Arestrup, responsável por alguns dos momentos mais doces do filme na pele do avô da garotinha que abriga Joey após encontrá-lo em sua propriedade?
Spielberg foi responsável por títulos inesquecíveis, ícones do cinema americano: E.T. - O Extraterrestre, Tubarão, Jurassic Park, A Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan, Inteligência Artificial e Minority Report. Cavalo de Guerra não consegue nem a metade do escopo desses filmes, sendo mais um exemplar da lista do cineasta composta por O Terminal e Guerra dos Mundos. Cavalo de Guerra é correto, possui ótimos momentos, daqueles que nos fazem constatar que Spielberg é um dos poucos que conseguem usar o clichê sem nos fazer envergonhar de derramar uma lágrima sequer por seus personagens, mas é um filme inconstante que intercala momentos magistrais com outros tantos que não conseguem dar liga e só fazem o filme se estender mais do que deveria.
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