Chris Evans combate o corrosivo cartel dos insumos hospitalares em Código de Honra. |
Está ficando cada vez mais difícil para as distribuidoras lançarem seus filmes nos cinemas. Só em 2011, produções importantes como Reino Animal, Toda Forma de Amor e Hanna chegaram direto em DVD e Blu-Ray. Os motivos estão diretamente relacionados à pirataria, ao desinteresse das plateias, mas principalmente à febre dos cinemas pelo 3D, algo que contraditoriamente salvou a indústria com a mesma rapidez que anda exaurindo com a disponibilidade de mais e mais espaços para produções medíocres como Terror na Água, que certamente não teria a mesma atenção anos atrás, época em que as projeções em 3D ainda não tinham chegado ao Brasil. 2011 confirmou o prognóstico de que a popularização do 3D foi um verdadeiro entrave para a chegada de muitos lançamentos. Código de Honra foi um deles.
Mais uma vez os meandros da indústria da saúde nos EUA é discutido no cinema, desta vez a atenção volta-se para a arriscada utilização em hospitais de insumos reaproveitáveis, prática responsável pela proliferação de epidemias como a AIDS. No longa, uma enfermeira acidentalmente é perfurada por uma seringa utilizada por um paciente. O fato desencadeia um processo movido por um escritório de advocacia gerido por dois jovens advogados. A intenção é implementar a utilização obrigatória de seringas descartáveis nos hospitais norte-americanos de modo que mais mortes envolvendo profissionais da saúde que lidam diretamente com estas situações sejam evitadas. Em meio a todo este litígio, que envolve teorias conspiratórias - muitas delas procedentes, na verdade, a maioria -, um dos advogados do caso, Mike Weiss, lida com seu vício por drogas pesadas como cocaína.
Código de Honra (certamente uma das traduções mais estúpidas que já vi) é certeiro e pertinente na discussão do tema e na exposição de fatos e de seus argumentos. Baseado em fatos reais, o longa, infelizmente (digo infelizmente porque é inevitável), tropeça quando tenta conciliar sua abordagem política e social com o drama pessoal do protagonista. Não é que o longa não consiga dimensionar estas linhas narrativas, mas torna-se complicado para seus realizadores estabelecer um paralelo, uma interseção entre os fantasmas de Weiss e o caso dos cartéis. No entanto, é admirável a maturidade dos irmãos Kassen, um deles está no elenco como o sócio de Weiss, e a interpretação de Chris Evans.
Carregando uma mácula que certamente terá que conviver por mais alguns anos, Evans comprova em Código de Honra que é um ator dedicado e tem a sensibilidade necessária para interpretar personagens densos e complicados. Como Mike Weiss, Chris Evans trafega por terrenos pantanosos e obscuros, o personagem lida com fantasmas pessoais - a solidão, o vício e a posterior abstinência por substâncias químicas - de maneira visceral. Em determinado momento, a perspicácia e inteligência de Weiss é colocada à prova, a ponto do advogado perder-se ao constatar que tudo aquilo que lhe dava suporte e aparentemente o ajudava a enfrentar situações mais complicadas já não consegue suprir suas necessidades instantâneas.
Puncture, 2011. Dir.: Adam Kassen e Mark Kassen. Roteiro: Chirs Lopata. Elenco: Chris Evans, Mark Kassen, Vinessa Shaw, Marshall Bell, Brett Cullen, Jesse L.Martin, Roxanna Hope, Michael Biehn, Kate Burton, Erinn Allison, Tess Parker. 100 min. Focus.
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