Melhor Filme Nacional
O Palhaço
Selton Mello
Colocando em uma balança, o ano não foi bom para o cinema nacional. No circuito comercial surgiram filmes embaraçosos como Cilada.com e Assalto ao Banco Central, já entre os lançamentos autorais a pasmaceira foi generalizada. Eis que surge Selton Mello, em seu segundo longa-metragem, e realiza uma das produções mais importantes de nossa filmografi recente. Autoral e comercial, a história do palhaço Benjamin é comovente e reverencia a arte como ofício. Mello demonstra maturidade e sensibilidade em pouco tempo de estrada atrás da câmera, mas o suficiente para deixar muito veterano constrangido pelo que já fez e pelo que ainda pretende fazer. A jornada existencial de Benjamin promove risos e lágrimas na mesma proporção, retomando a figura clássica de Mazzaropi e Didi Mocó - em seus áureos tempos - que por muitos anos protagonizaram e ajudaram a alavancar a produção nacinal, adicionou a pertinência sutil de Charles Chaplin e a estética e o lirismo de Federico Fellini. Querem referências melhores?
Em anos anteriores: As Melhores Coisas do Mundo (2010), À Deriva (2009), Meu Nome não é Johnny (2008) e Saneamento Básico (2007).
Melhor Atriz Nacional
Débora Falabella
Meu País
Toda a narrativa de Meu País, filme de André Ristum, acompanha a transformação de Marcos, personagem de Rodrigo Santoro, que passa a se abrir para o mundo e combater antigos fantasmas após a repentina morte de seu pai, depois de anos sem vê-lo em função de antigas e não cicatrizadas desavenças. No entanto, a personagem de Débora Falabella, Manuela, a meia-irmã do protagonista que é vítima de deficiência mental, quem deflagra todos os processos de transformação dele ao longo do filme. Através de Manuela, todas as mágoas de Marcos se dissolvem em prol de algo maior, o resgate de sua própria identidade, negada em função da tumultuada relação que o primogênito tinha com seu pai. A composição de Falabella é delicadíssima e expõe a atriz a riscos e armadilhas, algo que ela contorna com muita sensibilidade. Débora evita transformar Manuela em um clichê ambulante da deficiente mental, conseguindo colocar recursos externos como gestos e falas à serviço das emoções de sua personagem e não o contrário, como comumente vemos e que resultam em interpretações no mínimo constrangedoras.
Em anos anteriores: Glória Pires em Lula - O Filho do Brasil (2010), Laura Neiva em À Deriva (2009), Letícia Sabatella em Romance (2008) e Fernanda Torres em Saneamento Básico (2007).
Melhor Ator Nacional
Selton Mello
O Palhaço
Selton Mello é o nosso Charles Chaplin em O Palhaço. Aquele que com tão pouco conseguiu transmitir um universo rico e complexo de emoções, percepções e ideias. A simplicidade à serviço do olhar perspicaz sobre a condição humana. O Palhaço é um trabalho ainda mais complexo já que além de atuar, Mello teve que se multiplicar nas funções de diretor e roteirista. O mais incrível é que ele conseguiu fazer tudo muito bem, um trabalho acima da média. O ator já esteve aqui por três vezes, seus trabalhos em Meu Nome não é Johnny, Jean Charles e Os Desafinados, não há como esconder que é um dos favoritos do blog. Mas O Palhaço é um caso particular já que, ao mesmo tempo, é uma interpretação tão complexa e simples em sua composição. Mello transmite tristeza, ironia, doçura, ingenuidade, enfim, toda sorte de elementos cognitivos que enriquecem o personagem, engrandece o trabalho de outros atores (um elenco uníssono, inusitado e afiadíssimo) e dá corpo ao filme. Não menos que memorável.
Em anos anteriores: Francisco Miguez em As Melhores Coisas do Mundo (2010), Selton Mello em Jean Charles (2009), Selton Mello em Meu Nome não é Johnny (2008) e Wagner Moura em Tropa de Elite (2007).
Melhor Atriz Coadjuvante Nacional
Fabíula Nascimento
Bruna Surfistinha
Bruna Surfistinha não poderia faltar na lista. Um dos trabalhos mais surpreendentes do nosso cinema em 2011 - em expectativas e resultado final, afinal ninguém esperava que um filme sobre a garota do veneno do escorpião fosse ser tão interessante e bem resolvido - deu projeção ao nome de Fabíula Nascimento, curitibana que interpretou Janine, uma das prostitutas da casa da cafetina Larissa, personagem de Drica Moraes. Inicialmente impondo-se como antagonista natural de Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha de Deborah Secco, Nascimento vai gradualmente revelando as camadas de sua personagem, mostrando que existe muito por trás da vida de Janine, uma fragilidade que ela naturalmente evita demonstrar, utilizando como armadura uma espécie de casca impermeável e arredia a momentos de fragilidade. A atriz protagoniza uma das melhores cenas do film, em um salão de cabeleireiro, só por ela já merecia menção honrosa.
Em anos anteriores: Áurea Baptista em Os Famosos e os Duendes da Morte (2010), Débora Bloch em À Deriva (2009), Darlene Glória em Feliz Natal (2008) e Dira Paes em Baixio das Bestas (2007).
Melhor Ator Coadjuvante Nacional
Paulo José
O Palhaço
Incrível como Paulo José, lutando contra todas as adversidades que o Parkinson certamente lhe traz, consegue interpretações riquíssimas como a que ele apresenta em O Palhaço. O próprio ator já declarou que quando chega para trabalhar nos sets de filmagens, a doença praticamente desaparece e isto é visível aos olhos de qualquer um. Como Valdemar ou Puro Sangue, quando realiza sua parceria na arena do circo com Pangaré, o Benjamin de Selton Mello, seu filho, Paulo José consegue extrair a maturidade e a paciência exata para compreender as angústias de seu filho. Na cena mais emocionante de todo o longa, Puro Sangue se surpreende com o retorno de Pangaré e, naquele momento, Valdemar se faz presente, emocionado pelo retorno do filho. Um momento singelo e pontuado com muita naturalidade e a discrição apropriada.
Em anos anteriores: Irandhir Santos em Tropa de Elite 2 (2010), Luís Miranda em Jean Charles (2009), Selton Mello em Os Desafinados (2008) e Caio Blat em Baixio das Bestas (2007).
Veja lista de indicados aqui.
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